quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Metáfora Musical

Música e Teatro
Fr.: musique et théâtre,
Ingl.: music and theatre,
Al.: musik und theater;
Esp.: música y teatro.

A encenação é frequentemente comparada a uma composição no espaço e no tempo, a uma partitura, a uma interpretação. A notação e a composição musicais fornecem o esquema diretor do jogo teatral, permitindo aos espectadores, assim como aos atores, ”sentir o tempo da cena como o sentem os músicos”.

”Um espetáculo organizado de maneira musical não é um espetáculo no qual se toca música ou se canta constantemente atrás do palco; é um espetáculo com uma partitura rítmica precisa, um espetáculo no qual o tempo é organizado com rigor.”
(MEIERHOLD, 1992, IV: 325).



Ao abordar o fenômeno da “musicalização dos signos teatrais”, Helena Varopoulou afirmou:

“Que a música se tornou, tanto para os atores quanto para os diretores, uma estrutura autônoma do teatro”. Não se trata do papel evidente da música e do teatro musical, mas de uma idéia mais ampla do teatro como música. Talvez seja típico que uma mulher do teatro como Meredith Monk, que é conhecida por seus poemas sonoros e imagéticos encenados espacialmente, tenha declarado: “Vim da dança para o teatro, mas foi o teatro que me trouxe para a música”.

Meredith Monk é uma compositora americana, performer, diretora, cantora, cineasta e coreógrafa:





Desde 1960 criou obras multidisciplinar, que habitam os espaços entre música, teatro e dança, mas é conhecida principalmente por suas inovações vocais:




A ampla tendência à musicalização está no tratamento dos signos no teatro pós-dramático. Que consiste em desenvolver uma semiótica auditiva própria.

Sob o marco da dissolução da coerência dramática, chega-se á sobre determinação musical do discurso do ator por suas particularidades étnicas e culturais. Desde os anos 1970, importantes diretores têm a prática deliberada e sistemática de integrar ás suas companhias atores de procedências culturais e/ou étnicas inteiramente diversas, porque seu interesse se volta justamente para a variedade de melodias da fala, timbres, sotaques e de modo geral para os diversos hábitos culturais no ato de falar. Assim, mediante as diversas peculiaridades auditivas, a locução do texto se torna fonte de uma musicalidade autônoma. Os trabalhos de Peter Brook e Ariane Mnouchkine são exemplos mundialmente conhecidos.

Peter Brook:


Para contar essa história que é baseada no romance Vida e Ensino de Tierno Bokar do escritor africano Amadou Hampaté Ba e adaptado por Marie-Helene Estienne. Peter Brook dirige 11 e 12 onde é encenada pela companhia multi-nacional de atores e uma equipe criativa que inclui o compositor japonês Toshi Tsuchitori.

Podemos observar que desde a escolha do autor, dos atores e do compositor sonoro, Brook faz uma mistura étnica tendo como resultado uma diversidade de sotaques trazendo para o espetáculo uma riqueza sonora regada de diferentes, tons e acentos.


Ariane Mnouchkine é diretora francesa de teatro e cinema, fundadora do Théâtre du Soleil em Paris (1964), coletivo teatral que se instala na Cartoucherie de Vincennes em 1970. Sua trajetória representa um marco na entrada da mulher num mercado de trabalho majoritariamente masculino.

Além do fato de Mnouchkine trabalhar com atores de várias etnias colaborando para a musicalização de seu espetáculo, no vídeo abaixo podemos notar a importância da música em sua obra:



Novas Alianças


As relações da música e da cena estão mudando: uma não está mais a serviço exclusivo da outra e cada uma delas mantém uma autonomia que serve também ao parceiro: a música não é mais uma simples serva, a acompanhante da cena; ela não é mais, como na ópera doméstica, aquilo que afoga o texto e o teatraliza.

Durante muito tempo e sistematicamente separados em busca de suas espicificidade, música e teatro estão muito mais de acordo, atualmente, sobre sua complementariedade. Está-se redescobrindo a musicalidade dos textos e se evidencia a teatralidade de uma música.
Percebida no espeço teatral, a música assume para o espectador toda uma outra ressonância, diferente do quadro asséptico da sala de concerto. No entanto, ainda precisa ser restabelecido como o visual e auditivo trabalham juntos, a insistir na integração das percepções visuais e auditivas, de uma filtragem de todos os materiais pelo ”espectouvinte”.



Música de Cena

Estatutos do Acompanhamento Musical

a. Música produzida e motivada pela ficção: uma personagem canta ou toca um instrumento.

b. Música produzida exteriormente ao universo dramático.


Fonte não visível: orquestra no fosso, música gravada; a música produz uma atmosfera, pinta um ambiente, uma situação, um estado de alma. A música traz um lirismo e uma euforia que desrealizam o diálogo e a cena para fazê-los significar ” liricamente”.


Fonte visível: músicos em cena, às vezes disfarçados de de personagens(coro), atores capazes de tocar um instante de um instrumento. A encenação e a música não procuram iludir sobre sua origem e fabricação.



Música que faz parte de uma ficção quanto de uma realidade exterior ilustrativa. Onde os elementos musicais não são contraditórios , e sim partes integrantes da produção cênica global.

Como os músicos na encenações ”orientalistas” do Théâtre du Soleil:




Funções da Música Cênica

Ilustração e criação de atmosfera correspondente à situação dramática. A música repercurte e reforça esta ambiência. (Caso da música de fundo.)


Estruturação da encenação: enquanto o texto e a atuação são muitas vezes fragmentados, a música liga seus elementos esparsos e forma uma continuidade.
Efeitos de contraponto, onde a música sublinha ironicamente um momento do texto ou da atuação como em Brecht:


Substituição total do texto: música popular de 1930 a 1980 para O Baile ou para a dança-teatro.

É o que mostra Pina Bausch:


A música de cena assumiu uma considerável importância, nestes últimos anos, a ponto de se tornarem a estrutura que ritma todo o espetáculo.

Como em Ricardo II do Théâtre du Soleil:



E por fim, a música eletrônica que tornou possível manipular a vontade o parâmetro da sonoridade e com isso abrir campos inteiramnete novos para a musicalização das vozes e dos sons no teatro. Uma vez que diversas qualidades sonoras (freqüência, tom , timbrem volume etc.) podem ser manipuladas com o recurso de sintetizadorres, as combinações eletrônicas de ruídos e tonalidades (sampling).
Torna possível combinar a lógica do texto com o material musical e vocálico em diversas variantes. Torna-se possível manipular e estruturar intencionalmente todo o espaço sonoro do teatro. O campo musical, assim como o recurso das ações, não é mais construído de nosso linear, mas por exemplo, mediante a superposição simultânea de mundos sonoros.
Os signos teatrais pós-dramáticos se situam na linhagem dessas texturas.

Os videos do espetáculo Admirável e só para Selvagens com trilha sonora original criada por Quizzik, utiliza recursos sonoros de diversas qualidades:




Fontes: PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro;
LEHMANN, Hans-Thies. O Teatro pós-dramático.